sábado, 16 de junho de 2012



Biografia Sertaneja de Rudolf Steiner


Edições Micael
2010

Paulo do Eirado Dias Filho
 e Maria Aparecida do Nascimento Dias
 







Nasci no meu sertão,
por isso sou brasileiro,
igual a muitos milhões,
quase todos sem dinheiro,
sei que um dia chego lá
nem só, nem derradeiro.

Não querer ser o primeiro,
pode parecer estranho,
mas dessa vida aprendi
não pensar só no meu ganho,
capixaba ou gaúcho,
formamos um só rebanho.

E peço que me permita
fazer minha apresentação.
Simbolino Silva Leão,
 o popular Simbolão.
Em cima da minha graça
foi feita aglutinação.

Tenho vinte e poucos anos
três setênios, calculô?
dezoito manos em casa
mais onze que se adoto,
ainda tem noras e sogras,
e seis primos do vovô.

Como a casa é pequenina,
logo parece estar cheia
vivemos em harmonia,
onde ninguém se aperreia,
na fachada azul e verde
pruns bonita, proutros feia.

Ainda tenho pouca idade
mas já fiz muito biscate,
trabalhei como vaqueiro,
já plantei jiló, tomate,
pro mode ter na moral
o mais elevado quilate.

Hoje escrevo como posso,
rimando verso com fato.
Dizendo do que aprendi,
rimando no anonimato.
Fazendo livro e cordel
rimando o auto-retrato. 

Dirijo carro-de-som,
sou feirante e camelô,
só não tive mesmo escola
pra me formar em dotô,
mas tenho o dom de versar
umas sextilhas pro sinhô. 

Nascer aqui me ajudou
a ter um grande legado,
ganhando a vida no verso
eu vivo bem, obrigado.
Só sinto pelo vizinho,
nem poeta, nem letrado. 

Do que gosto? digo agora
e nem paro pra pensar,
farinha, reza e morena,
milho, forró, namorar,
preferência? Te suplico,
não me peça pra ordenar. 

Nas andanças do caminho,
com um velho deparei,
frente a tanta sapiência
de pronto me ajoelhei,
me disse: - Serás o ouvinte,
vou falar tudo que sei!

O velhinho se assentou
na sombra dum umbuzeiro,
setenta e sete setênios
que vivia sem dinheiro,
mas sempre sobrevivia
nordestino verdadeiro. 

Desde a múmia de Xingó
remota civilização,
o Egito? nem existia
São Francisco? plantação,
e por isso ao “Velho Chico”
temos tal veneração. 

Caminhou com Padre Cícero,
Lampião e Conselheiro,
viu a chegada do gado,
da cana com o usineiro,
o êxodo para São Paulo,
a morte do caatingueiro. 

Uma memória tão viva
para tudo testemunhar,
até o Capiberibe e
Beberibe o mar formar
e semanas no Funrural,
pra tentar se aposentar. 

Também se lembra com lágrimas,
primeiro navio negreiro,
a fuga do índio pro mato,
a invasão do estrangeiro,
por riba, vem exclusão,
essa do sul brasileiro.   

Serenando a voz pediu,
para ouvi-lo atentamente,
bela história vai contar,
coloquei-me à sua frente,
ligado, feito uma lâmpada,
pra sabe-la totalmente.
   
- O que tenho para contar
causa profunda impressão,
uma história para todos,
mas poucos assimilarão,
tens que mantê-la viva.
Meu discípulo Simbolão! 

Ao fazer um verso assim
o nordestino sofreu,
mesmo lendo em português
penei com nome europeu,
fidelidade não falta,
é dize-tu-direi-eu. 

Aqui vou narrar um causo
dos cabelos arrepiar,
falo dum jovem europeu
cuja história ao contar,
pára toda a natureza
a fim de melhor escutar. 

Na pequena Kraijevec (vixe!)
dona Franziska deu à luz,
um menino bem especial
nasceu no mundo de Jesus,
e pra ele se encaminhou
desvendando a Santa Cruz. 

No ano sessenta e um
do século dezenove,
a Áustria com o frio tremia
num inverno que comove,
sertanejo só imagina
lá neva e cá nem chove. 

Naquelas bandas distantes
de Rudolf foi batizado,
lá não tem Zé ou João,
mas Rudolf é bem botado,
Steiner, no sobrenome,
pra ficar mais complicado. 

Inda era bem garotinho
quando na escola ingressou,
teve mestre bom e mau,
com o último seu pai brigou,
levando o filho pra casa,
letra e número o ensinou. 

Seu pai, bom ferroviário,
outra vez foi transferido,
indo morar em Neudorf
que nomezinho enxerido,
Rudolf a escola retorna,
voltando ao lugar querido. 

A geometria o encantou,
rara beleza envolvia,
o plano vira cilindro
se num eixo rodopia,
pra todos isso era dado,
mas, muito mais ele via. 

Ver um plano em seu girar
é dar nova dimensão,
na matéria ver espírito
é enxergar com o coração,
o que se sente sem ver
é mais forte que a razão. 

Nem plano, ponto ou reta,
pois nada disto existia,
é do nosso pensamento
juntar coisas que se cria,
pega o elemento e gira,
só pra ver em que daria. 

O Rudolf não parava
vendo mais que o real,
o menino não temia
o cenário espiritual,
mas calado, desde cedo,
já investia na moral. 

Em uns assombros de almas
o valente se envolvia,
suas armas de vidente:
geometria, filosofia,
conhecer tudo era bom,
mas falar, com quem podia? 

Como se pode esperar,
do céu o padre conhece,
fala dos anjos e santos,
mas o céu não é só prece,
seu sistema planetário 
dá um show quando anoitece. 

Então o padre prosseguiu
mostrando sol e planeta,
tudo Rudolf aprendia
vendo mais que na luneta,
há seres que moram lá,
uns na lua, uns no cometa. 

Com dez anos no Liceu
que ficava em Cisleitânia.
(Belo nome pra uma filha!)
Morava na Transleitânia,
mas muito pior lhe seria,
estudar na Transilvânia. 

Novo professor chegou
chamado Georg Kosak,
bem ensinava a geometria,
parecia um almanaque, 
logo vendo que o menino
já ia partir pro ataque. 

Aos catorze chegou lendo
“Crítica da Razão Pura”,
Kant, o famoso autor,    
obra de envergadura,
que esforço espetacular
de tão pequena criatura. 

Bacharel com distinção,
e diplomado no Liceu,
nota mais alta, não havia
no continente europeu,
daí foi pra Viena estudar
a ciência de Galileu. 

Em nova etapa estudou
muitos outros pensadores,
Fichte, Hegel, Schelling,
Goethe, e grandes autores,
inspirado já  escrevia
a partir dos seus valores. 

Em toda bússola tem
um ponteiro e o cardeal,
para Steiner a ciência
vai  mirar o espiritual,
ou ficará limitada
na pobreza material. 

No meio do povo mais simples
muita gente tem valor,
passa bem bela mensagem
feito Felix, o catador,
pobrezinho, nunca estudou,
mas de Steiner, foi professor. 

Logo a sina de Steiner,
era a mais nobre missão,
deveria achar o caminho,
juntar ciência e religião,
pegar tudo e dar um nó.
Unir o crente e o pagão. 

Na levada dessa vida
a obra de Goethe encontrou,
nosso jovem, Fausto leu,
releu, discutiu e gostou,
parte um e parte dois
e mais livros que estudou. 

E como em toda teoria
essa aqui, valor não tem,
se fica só na idéia
e nada produz para o bem,
Steiner virou professor
de letra, número e além. 

quatro irmãos se lhe chegaram
para testar sua teoria,
três  normais, um avexado,
“acabador de pedagogia”,
logo Steiner o ensinou
tudo quanto lhe cabia. 

O avexado assim cresceu
vencendo sua própria sina,
“hidrocefalia galopante”
não trata com aspirina,
só muito amor e trabalho
pra o formar em medicina. 

De tal trato é que surgiu
nova fonte educativa,
especial se educa com
Pedagogia Curativa,
onde não há exclusão
e nem droga sedativa. 

Uma ciência que vê o mundo
em uma direção só,
esquarteja pra estudar,
mas pra montar falta o nó,
reduz, retirando a vida
e vai pesquisar no pó. 

A biologia quer da física
fazer o seu corrimão,
mas se planta não é carga
nem plano inclinado é leão,
o orgânico é respeitado
com Goethe e cosmovisão. 

Tal prática comprovou
ir na direção acertada,
é sair fora do quadrado
ter a visão ampliada,
o mundo vai bem além
da ciência demonstrada. 

Porém quase todo esforço
sentiram ter sido em vão,
venceram os mecanicistas
com o trator da razão.
Foi como ver a sanfona
e não ouvir o baião. 

Me permita, nobre rapaz
dizer aqui nesse espaço,
queria encontrar com Steiner
e lhe dar um forte abraço,
esse menino bem devia
ter nascido em meu pedaço. 

Meu pedaço é o cantinho
do Brasil mais ao leste,
berço de nossa cultura,
da caatinga, do agreste,
das praias mornas azuis.
Conhecido por nordeste. 

Seria um notável também,
sem precisar de dinheiro.
Onde o rico é coroné,
banqueiro, ou usineiro,
o pobre é trabalhador,
artesão, talvez vaqueiro. 

Seria muito bem vindo
onde um destino penoso,
de Lampião ou Conselheiro,
faz dum pobre, um famoso,
junto ao Padim Padre Cíço,
que me fazem orgulhoso. 

Minha terra é onde o sol
deixa o chão todo rachado,
Asa Branca vai pro céu,
caatinga cai no machado,
se vive sem caloria
onde se dança o xaxado. 

Mas, voltando pras Europa,
Steiner muda pra Weimar,
de início muito gostou
da obra de Goethe avançar,
porém penou sete anos,
pisando nesse lugar. 

Fazendo nessa passagem
coisas de grande valia,
se casou com a viúva Anna,
terminou a Edição Sophia,
inda germinou por aí,
a querida Antroposofia. 

Mostrou logo pra dona Anna
que era mesmo um cabra-macho,
quando a viu muito bacana,
com cinco filhos num cacho,
foram feitos um pro outro,
que nem chuva pra riacho. 

Criando a Antroposofia
deixou de lado a vaidade,
defendeu Darwin, Suphan,
Nietzsche, Haeckel, de verdade,
numa situação grandiosa
logo vista com maldade. 

“A verdade é muito grande”
defendia nosso amigo,
mas cristalizada a crítica
idéias dum mundo antigo,
injusta, de vista curta,
não queria dar abrigo. 

Steiner, nosso herói
botou mesmo pra quebrar,
cem títulos escreveu
na passagem por Weimar,
cumpriu toda obrigação,
sem sequer pestanejar. 

Nosso amigo ouvia a todos,
contra ou a favor, ouvia,
falava dos seus assuntos,
parece até que defendia,
mas seguro, um papo à noite,
e o mesmo durante o dia. 

Cinco sentidos, se diz
uma dúzia ele avistou,
pensar com cinco é ciência,
com doze se aventurou,
pensar livre dos sentidos
a cognição libertou.   

O grau da liberdade
é qualidade do pensar,
se Zé pensa no que sente
sua mente vai atrasar,
no que pensou, já sentiu,
no que sentiu, vai pensar. 

Filosofia da Liberdade      
exercida no seu querer,
vivida por seu sentir
e pra melhor entender,
reconhecida no pensar.
Exercite já pra ver. 

Aos trinta e seis, turbulência
pra Steiner a novidade,
seus sentidos, enevoados
já tem nova claridade,
vivência comum a todos
porém nunca nessa idade. 

O que uma criança sofre
nos dá dó, e muita pena,
com sarampo ou catapora,
ela agüenta e nem faz cena,
mas se pega num adulto
vai ser longa a quarentena.

Difícil no homem maduro 
não ver maldade no tato,
a fala nem sempre é clara,
crer no paladar e olfato,
perda na audição, visão,
limitam o seu contato. 

Aumentar esses sentidos
o trouxe mais para o chão,
passada tal tempestade,
aproveitou da aptidão,
agora vai ser professor
de proletário alemão. 

Por cinco anos ensinou
do jeito que bem queria,
pelas noites até às onze,
após grande correria,
professor assim gostava
e o aluno aprendia. 

Seu ensino logo faria
a grande transformação,
toda escola tem que dar
pro operário, ascensão,
e isso de fato acontece
quando a elite dá a mão. 

Quinhentos anos faria
Gutemberg, o inventor
sete mil logo chegaram,
mas sem som, nem gerador,
os tipógrafos assim ouviram
em silêncio o professor. 

Isso vem pra comprovar
a excelente oratória,
nem foi professor ingênuo,
nem operário foi escória,
sempre com dignidade,
respeitando sua história. 

Na vida aprendemos coisas
de valiosa grafia,
eu ia levando o leite,
Steiner com a Teosofia.
Eu voltando com o queijo,
Steiner na Antroposofia. 

Homens têm faculdades
dos mundos superiores,
nos permite a consciência
conhecer seus bastidores
e é na vigília que se anda
em busca desses valores. 

Pra alumiar vosso espírito
cresça a fé com devoção,
alimente bem a alma
com credo e veneração,
e não censure, nem julgue,
abra bem seu coração. 

Não condene sem entender,
seu momento vai chegar,
e de todo preconceito
procure se libertar,
só conhece essa verdade,
quem retidão comprovar. 

Peço a comparação perdoar,
pois há do que não abro mão,
Steiner qual sertanejo,
leva o Cristo no coração,
mesmo quando vai sozinho
ele segue em procissão. 

Li A Ciência Oculta,
famosa publicação,
toda a história do mundo,
e os passos da evolução,
podem até contestar,
mas tem muita revelação. 

O centro dessa história
tá no mistério do Gólgota,
o Homem e o Cristo se unem
traçando a mesma rota,
tirando do seu caminho
quem torce pela derrota. 

O Sol e a Terra se uniram
sem fazer qualquer pirueta.
Como a luz vinha de fora,
nossa Terra era um planeta.
Com Cristo, virou estrela,
de luz azul violeta. 

Sobre o mundo espiritual
Steiner deu explicação,
todavia de Jesus Cristo
falou com moderação,
sabido, bem compreendia
não citar Seu nome em vão. 

Muitos santos eu venero,
uns de lá, outros daqui,
Buda, Krishnamurti,
igual Jesus, nunca vi,
é o centro da humanidade
com Seo Steiner aprendi. 

O centro da cruz apoia
uma ponta do compasso,
e quando a outra rodopia,
girando, fechando o laço,
a forma final é a Terra
com o Cristo num só abraço. 

Só se planta no sertão,
esperando uma trovoada.
Quem entra para Teosofia
crê nos frutos da jornada,
mas planta ou crença não vingam,
sem chuva ou com enxurrada. 

Então Steiner foi expulso
de onde muito conheceu,
afastado da Teosofia
clamou pelas forças do EU!
Fundando a Antroposofia,
com o Cristo no apogeu. 

Nossa Terra vive sempre
uma grande discussão:
o ocidente vai num rumo,
o leste na contra-mão.
Se o oriente vai num prumo,
o oeste não vê razão. 

Pois cada qual quer do mundo
bem  tirar sua conclusão:
balança, régua e relógio,
para o oriente é ilusão.
Alma, espírito e tarô,
pro oeste é adivinhação. 

Antroposofia procura
mostrar Deus pro ocidental,
juntar o céu com a terra,
dar alma ao material,
fazendo grande sucesso
este saber espiritual.

Os novos tempos exigem
para o saber a aplicação,
a filosofia só vale
na hora da realização,
pois sua origem só existe
se chegada a conclusão. 

Tem dança, Arquitetura,
Medicina, Pedagogia,
Culinária, muita arte, 
famosa Psicologia,
Terapia Social, Teatro,
e Humana Biografia. 

Ta pensando que acabou?
Biodinâmica Agronomia,
Pedagogia Curativa,
Farmácia e Euritmia.
Pasta de dente até se faz,
espremendo a Antroposofia. 

Todo o visto resultou
dum certo pólo alemão,
Berlim discutia, pensava,
participava com a razão,
Munique sonhava na arte,
adicionando emoção.

A obra “Drama dos Mistérios”
de Steiner quer estrear,
em Munique, no ano dez,
o primeiro a apresentar,
até a guerra de catorze,
quinto drama censurar. 

Falece então, Dona Anna.
Viúvo, seu estado civil.
Eu só sei que foi em onze.
Motivo? O livro omitiu.
Pensei: foi estopô-balaio,
comeu e se banhô no rio. 

E o primeiro Goetheanum
começou a formar raízes,
a Suíça bem escolhida
num canto de três países,
de duas guerras escapou
dois confrontos infelizes. 

O prédio foi construído
ouvindo os sons dos canhões,
labutaram construtores
de dezessete nações,
sete milhões francos suíços
lá chegaram de doações. 

De madeira se elevava
esta imensa construção,
a desafiar arquiteto,
engenheiro, mestre e peão,
mais de mil pessoas com folga
debaixo dum mesmo vão.

Steiner nunca parava,
orientando toda parte,
querendo ver arte na obra,
também com obra de arte,
animado ele fazia
do trabalho seu estandarte.

Em madeira esculpiu
“Representante da Humanidade”
que mostra o homem atuando
com sua responsabilidade,
afasta uma mão, o delírio
e a outra a materialidade. 

A mão esquerda para o alto,
a Lúcifer distancia,
já a direita para baixo,
trata Árimã com energia,
expondo um homem atual
que tem Cristo como guia.

Em catorze, Seo Steiner,
novamente vai casar,
com a Marie von Sivers
agora vai desposar,
vinte e quatro de dezembro,
Feliz Natal no altar. 

Mas a guerra prosseguia
dificultando as viagens,
Steiner vendo as nações
sem verniz, sem camuflagens,
“missão das almas dos povos”
revelada nas imagens. 

Quem fala sempre a verdade
acaba incompreendido,
Steiner até acusado
da Alemanha ter perdido,
e da França que venceu
também foi repreendido. 

Quando o confronto acabou
Steiner cria o manifesto,
pedindo auto-reflexão
pra não repetir o gesto,
e muita gente assinou
o pedido tão honesto. 

Desse movimento nasceu
a Trimembração Social,
organização proposta
na  desordem mundial,
novo ramo a se formar
na ciência espiritual. 

Na política e justiça,
seu pilar é igualdade.
Na cultura e educação,
domínio da liberdade.
Na atividade econômica,
agir com fraternidade.

Mas mexer com o poder
sempre provoca tormento.
A trimembração falhou,
não era chegado o momento,
muita luta já provocou,
sem nem testar a contento. 

Em dezenove nascia
de vez sua pedagogia,
foi em fábrica de cigarros
por uma estranha ironia,
funcionava muito bem,
e Waldorf se chamaria. 

Nessa educação brilhante
a criança é respeitada,
pra crescer sadia e forte
de maneira equilibrada,
pensar, sentir e querer,
toda aula é vivenciada. 

Começou com uma só,
hoje são muitas centenas,
espalhadas pelo mundo,
holandesas ou chilenas,
fazendo grande sucesso,
sejam grandes ou pequenas. 

Em vinte que começou
a crescer a medicina,
fazer a cura com arte,
ver o doente e sua sina,
não pra só pedir exame
de sangue, fezes ou urina. 

Homem, nessa medicina
tem três sistemas principais,
rítmico no meio de campo
equilibra com os demais,
coração e pulmões formam
os órgãos fundamentais. 

Depois vem um aloprado
o metabólico-motor,
processa a vitalidade
pisando o acelerador,
músculos, calor e vísceras
funcionam como um rotor. 

Finalmente, o pacato
sistema neuro-sensorial,
fica dentro da cabeça
e na coluna vertebral,
quase não vive o distinto,
é tão frio, quanto vital. 

Nem bem raiava vinte e um,
Steiner em uma ação,
juntou com vários teólogos
para uma renovação,
vendo o homem ser pensante
tão longe da religião. 

Desde quando Antroposofia
é espírito e cognição,
pro ativo participante
se indica uma confissão,
para enriquecer sua alma
qualquer que seja o cristão. 

Se o novo vem pro bem
Steiner quer renovar,
Comunidade de Cristãos
onde pastoras vão ao altar,
sendo a primeira do mundo
a tal prática adotar. 

Também tinham os pastores
dividindo a primazia,
já na Primeira Paróquia
que em Dornach nasceria.
Com cristão não-praticante
não se faz Antroposofia.

A nova igreja surgiu
formando uma bela união,
ligou a ciência com a fé
que juntas, numa só mão,
exemplo do mais valioso
para qualquer religião. 

Chegando em vinte e quatro
uma nova constatação:
o mundo inchará de crianças
doentes da mente ou razão,
Pedagogia Curativa
vem propor a solução. 

O carma é determinante
em qualquer ser especial,
traz enorme sofrimento,
a família passa mal,
porém é luz da mais pura
lá do reino espiritual.

O bom humor verdadeiro,
de um terapeuta é vital,
sem o tal peso de chumbo
da educação tradicional,
muito amor e compreensão
formam o eixo fundamental. 

Isso nasceu em função
duns dois conselhos bem dados,
de Steiner para três jovens, 
de loucos encarregados,
e Dra. Ita Wegman.
Trabalhos abnegados. 

Nesse mesmo ano, Steiner
achando que fazia pouco,
se atirou na agronomia,
trabalhando feito louco,
de terra, planta e cosmo
falou até ficar rouco. 

Biologica Dinâmica
a agricultura chamaria,
o movimento campestre
que à química recusaria,
do tamanho do universo
a vida do solo seria. 

Gostando tanto de arte
Steiner logo criaria
uma que não existisse,
era tudo o que queria,
tinha chegado o momento
de surgir a Euritmia. 

Como uma arte que procede
da alma, mais pura ação,
“consciência de espírito”
em uma gesticulação,
como a “linguagem visível”
do cosmo em exibição.

Por isso dizem ser a arte
que o espírito faz par,
não é mímica, nem dança,
- é com gestos, cantar! Cantar!
Disse a Sra. Steiner
definindo Euritmizar.

Mas nem só com grandes feitos
que as coisas aconteciam,
crescia a contrariedade
daqueles que a combatiam,
e havia na Antroposofia
aqueles que se envaideciam.

Alguns países da Europa
eram bem tumultuados,
nacionalista Alemanha
tinha ânimos exaltados,
também uns confessionais
se sentiam prejudicados.

Steiner viajava muito
no cenário tenebroso,
até ameaça de morte
lá de um grupo belicoso,
mas nada desviou a missão
deste mestre corajoso. 

Grande golpe foi sentido
na noite de São Silvestre,
incêndio no Goetheanum
é grande a perda terrestre,
sentido, sofreu demais
o nosso querido mestre. 

Quando a fumaça surgiu
muitos foram voluntários,
para combater as chamas,
bombeiros extraordinários,
salvaram o que puderam,
venceram os adversários.

- Abandonar logo o prédio!
de Steiner partiu a voz.
A fumaça insuportável,
foi um inimigo atroz,
sem esmorecer a alma
toma uma decisão veloz.

- Amanhã, no mesmo horário
a mesma programação,
na carpintaria vizinha
temos nossa reunião.
Seguiram as conferências
sem qualquer interrupção.

Essa dor foi muito grande
Steiner tanto sentiu,
pensando mais no assunto
foi que uma ficha caiu,
por fora os opositores
por dentro também ruiu. 

Nem um ano se passou
do fogo devastador,
Steiner lutou, viajou,
num gesto aglutinador,
a Antroposofia falhava,
sem estrutura interior. 

Resolveu fazer de novo
o Estatuto Social,
a nova ordem vai nascer
nesse Congresso de Natal,
oitocentos lá presentes
mesmo num frio sem igual. 

Steiner bem comandou
tal evento com mestria,
assumindo a direção,   
zelando por garantia
de ordem e fidelidade
da instituição que renascia.

Antroposofia pro mundo      
tem de ser de forma aberta,
não pode ter vaidade,
nem coisa de gente esperta,
guru também não tem lá,
nem capa, mago ou coberta. 

“Escola Superior Livre
para a Ciência Espiritual”,
e pro Goethenum lançaram
uma pedra fundamental,
em primeiro de janeiro
é que encerraram o Natal.

Novo ano vinte e quatro
chegava bem renovado
Steiner, porém no dia
sentiu-se adoentado
era o começo do mal
que o teria levado. 

Poucos meses lhe restavam
devido a débil saúde,
mas não se deixou derrubar
mostrando grande virtude,
centenas de conferências 
e alocuções amiúde. 

Tudo quanto ele falou
logo estenografado,
hoje, todo o material
está em livro encadernado,
como se fosse um presente
dum homem bem elevado. 

Em apenas nove meses,
muitos feitos realizados,
viagens por vários países
gerando bons resultados,
Pedagogia Curativa
e Agricultura lançados.

Vinte e oito de setembro,
Steiner pôs-se no leito,
e não mais se levantou,
pelo que soube a respeito, 
mesmo nesse pobre estado
trabalhava satisfeito. 

Véspera de vinte e nove,
dia do Arcanjo Micael,
com sua espada guerreira,
ao Cristo sempre fiel,
iluminando o enfermo
a prosseguir seu papel.

Sua própria biografia
publicou semanalmente,
até no final de março
as enviou pontualmente,
desfazendo acusações,
que não estava presente. 

Muita gente se lhe chegou
para pedir uns conselhos,
atendeu bem, todos eles
fossem verdes ou vermelhos,
tomou grandes decisões
com ajuda de aparelhos.

Ficou deitado no estúdio
nos seus últimos momentos,
ouvindo serra e martelo
como fossem instrumentos,
tocando o novo Goetheanum,
erguendo seus pavimentos. 

Com muita tranqüilidade
a trinta de março, morreu,
deixando o mundo terrestre
pra outro conhecido seu,
a expressão bem serena
do seu rosto descreveu.

O novíssimo Goetheanum
continuou sendo erguido,
não tinha a fala do mestre,
só o que se tinha aprendido,
em três anos ficou pronto
de concreto protendido. 

Hoje, século vinte e um,
é grande a movimentação,
tem curso, palestra e teatro,
tem seminário e convenção.
O Goetheanum está vivo
para nossa satisfação.

A Antroposofia cresceu
mostrando que não é papo,
redimiu-se até a Alemanha
dos abusos da Gestapo,
que prendia simpatizantes
pra humilhar e dar sopapo.

Hoje, pelo mundo inteiro,
Steiner deixou um legado,
farmácia, pesquisa, clínica,
escola e livro, um bocado.
Em Sergipe, Propriá,
Fórum Social realizado.

Assim vou chegando ao fim,
nessa missão de repassar,
tudo quanto eu sabia,
pra já poder descansar.
Eta história poderosa
pro cristão se transformar.

Pois de tudo que contei
o jovem tem de aprender,
para crescer nessa vida
esforço terás de fazer,
não pense que sabe muito
duvide sempre do saber.

Não esqueça minhas palavras,
faça delas a autoria,
nunca serás como um outro,
fazendo sua Antroposofia,
sempre é feita na medida,
é só sua, ninguém copia.

Muito acredito em você!
Desculpe pela demora,
sei que muita informação
não se aprende assim na hora,
o resto vem com a vida.
                     Até breve! Vou-me embora.        

Dizendo essas palavras
o sábio logo sumia,
mágica tão bem feita
que nem roliúde faria,
eu agora estava sozinho,
não mais o mesmo seria.

Tanta coisa na cabeça
e impulso de juventude,
era um privilegiado
pensando ser só virtude,
estava super vaidoso
numa péssima atitude.

Com o tanto que aprendi
pensei que tudo sabia,
no Raso da Catarina,
o deserto da Bahia,
fui mangá dum sertanejo
que pensei nada diria.

Lhe falei dum Eu eterno,
várias vidas do cristão,
num relance refletiu,
respondeu com prontidão:
- Se a caatinga fica verde
eu vejo a reencarnação.

Pra Sergipe me aprumei,
fui mostrar conhecimento,
depois de tanto estudar
queria reconhecimento,
pensava que eu era um gênio
e o outro fosse um jumento.

De fogo, água, terra e ar
fui falar no Carrapicho,
um menino rebateu:
- Junto tudo com capricho,
aí faço com a cerâmica,
de moringa a crucifixo.

Sai de lá de fininho,
com raiva dos elementos,
sigo em frente pra mostrar,
pros outros conhecimentos.
Quem encontrar no caminho
falo dos temperamentos.

Caminhei pra Propriá
na margem do São Francisco,
encontrei com um criador
rezando por um chuvisco,
perguntei: - Como é que pode,
qualquer ano o mesmo risco?

Ele então me esclareceu:
- A vida tem dessa sorte,
a gente pisa no barro,
fica a pegada da morte,
melancolia do verão
muito seco aqui no norte.

- A cólera vem do agiota
mais forte temperamento,
o “sangüíneo” no brincar
nas poças, por um momento,
a fleuma é deveras rara
mais ou menos 1 por cento.

Precisando ir numa feira
fazer negócios queria,
imagine um grande xópingue
sem âncora e sem franquia,
a banca é a cara do dono,
o próprio é quem negocia.

Pro norte me dirigi
andando pelo Nordeste,
por toda Alagoas cruzei
seguindo rumo ao agreste,
Caruaru – Pernambuco.
Ah! Feira grande da peste!

De doze sentidos falei
prum repentista ao meu lado.
- vinte e quatro! Respondeu.
Me deixando encabulado.
- Não pense em jogo do bicho,
duplo-sentido é contado.

Pois comece por explicar
sobre o sentido do tato:
- Tatear é estar bulindo,
com malícia ou não, de fato.
Aliso com essa mão,
mas com a outra mão lhe bato.

Me arresponda, sem demora
sobre o sentido da vida:
- Queremos bem na saúde,
na dor ou na despedida.
Ir no sentido da morte,
é o sentido da vida?

Agora diga que sabe
Sentido do movimento:
- Parado ninguém está,
nem num estacionamento,
quando se dá um cochilo,
o mundo andou no momento.

Do sentido do equilíbrio
o que você quer falar:
- Quando a seca nos castiga
sete léguas tem de andar,
uma lata na cabeça
e um lar para equilibrar.

Agora, dê repentista,
do olfato uma opinada:
- Dizer que água não cheira
a coisa mais afirmada,
é o cheiro que mais sinto
se sinto cheiro de nada.

Do paladar majestoso,
nosso leitor quer saber:
- Tem quem passe pela vida
pensando que é só comer,
outro sentido é no jejum
que faz nossa alma crescer.

 Do sentido da visão
dê uma versão exótica:
- Quando o chão vira brasa
debaixo da luz pirótica,
vejo água onde não tem,
na dura ilusão de ótica.

Qual o sentido do calor?
já que do sol você falou:
- Tem frieza e tem quentura
e o termômetro nem marcou,
são as do calor humano
que dum homem emanou.

Vá dizendo qual embate
vai criar sobre audição:
- O barulho vem de fora
parecendo uma invasão,
bem mais alta a voz de dentro,
no silêncio da oração.

Me diga ao pé-da-letra
mais um sentido efetivo,
sendo tão bom repentista
que me falta adjetivo,
só não quero nas palavras
duplo-sentido abusivo.

Do sentido da palavra
como não ser enganado?
- “Ao pé-da-letra” me pede
pra não ser manipulado,
mas se letra não tem pé
você tá prejudicado.

Já estou ficando maluco
sem nem pensar no pensar:
- Pensamento o céu viaja
sem a razão controlar,
pode ser só um sentido,
pensar e não concordar?

E pra findar os sentidos
faz uma dúzia no Eu:
- Pois, “Amai-vos uns aos outros...”
como Cristo prometeu,
o egoísmo desaparece
quando nós é maior que Eu. 

Do violeiro despedi
discreto, sem muito aviso,
impossível ser mais ágil
falando num improviso,
cheguei por cima do mundo,
saí por baixo do piso.

Peguei no carro-de-som
pra fazer publicidade:
“No Ispá Volta Redonda,
o mais novo da cidade!
Para todos: mocotó,
cuscuz conforme a idade”.

Peguei no auto-falante,
como grande marqueteiro:
“A massagem ‘Tokio Town’,
sucesso em Juazeiro!
Milenar casa de gueixas
original do estrangeiro”.

Um bom serviço de som
deixa o caboclo ligado,
dentaduras num balaio,
elixir pra-mau-olhado,
elepê de forró, um óculos,
vende tudo se for fiado.

O meu som continua zoando
divulgando o lançamento:
“Barbeiro à quilo em Penedo,
que não pesa no orçamento!”
“Funerária Seu-Fim-Serve,
pronto auto-atendimento!”

Na Paraíba inaugurou
churrascaria rodízio,
parece até coisa comum?
Essa entrega em domicílio,
com duzentos motobóis
rodando sem desperdício.

Num momento de descanso
um tangerino encontrei,
era perto de Piancó,
na bodega de Marlei,
com um esquadro na mão,
num repente o desafiei.

Falei da imagem de sólidos
em plena revolução,
do cristal que forma o prisma,
Pitágoras, projeção.
Perguntei pra meu ouvinte
Geometria? Sabe ou não?

Ele então me respondeu:
- De escola num sei nada,
mal soletro o be-a-bá,
meu lápis foi uma enxada
para mim a geometria
é matéria desalmada: 

- “Mais um plano foi traçado
cortado por retas churdas.
Pro Polígono das Secas,
certa esfera cria ajudas,
paralelas nos efeitos
do Triângulo das Bermudas.

Basta ter linha de crédito
e um círculo la que  mente,
feito uma maré secante,
dinheiro saí na tangente,
some no raio de Brasília
nem vem pro lado da gente.

Tem centros alienantes,
no setor lá da imprensa
que dão corda pra pensar,
essa linha é tão extensa
que o nordeste vira um ponto,
em face a verba tão imensa. 

Olhando por outro ângulo,
qualquer área do sertão
com perímetro irrigado,
tem volume de produção,
que nos livra do pentágono
em branca revolução. 

Numa divisão congruente,
nós trabalhamos à altura.
Basta de lona e trapézio,
pois sertanejo é figura,
rija que nem um triângulo
na base duma estrutura”.

Decaído pelo sermão,
fui do Ceará pro Piauí,
de Seridó, Propriá,
por Canindé, Cariri,
pra Gravatá, Jequié.
Cansado cheguei aqui.

             - Oh! Simbolão. Qué qui há?
Arguiu Mariá, amorosa.
            - É qui cê tá di dá dó!
Prosseguindo bem dengosa.
Nordestino ama oxítonas,
imagine com essa prosa.

No sertão muito aprendi
andando num outro estado,
sempre que gozava alguém
eu que ficava humilhado,
quanta riqueza a cultura
dum povo determinado.

Por um momento pensei,
é boba a Antroposofia,
vou discutir com matuto
sempre acabo numa fria,
porém logo compreendi
a minha própria agonia.

Não serás o maior do mundo
pelo que pôs na cabeça,
conte com o coração
nessa jornada travessa,
firme agora o pé-no-chão
e deixe que a alma floresça.

Então me veio a lembrança:
o bom ancião sabia demais,
eu que não tinha atentado
nas suas palavras finais,
diante da eternidade
somos pontinhos iguais.

Para agir melhor no mundo
Steiner deu seu recado:
Faça bem a sua parte
ajudando alguém ao lado,
pois vale em qualquer lugar,
nem espere um obrigado.

Comecei a ver o próximo
com uma nova visão,
defronte duma injustiça
assuma uma posição,
sendo honesto e corajoso
sempre chega outra mão.

É que o problema social
do nordeste está pior,
pela remessa de renda
arrancada de um menor,
com o osso furando a pele,
o choro no berço é maior.

Uma mãe sofre dobrado,
mas permanece nutriz
nem se alimenta a coitada,
amamenta feito atriz
tivesse só um centavo,
faria a família feliz.

Como cresce o sertanejo
pela seca castigado?
Vendo sua criação morrer,
com o fim por todo lado,
só lhe resta olhar pro céu
e pedir pra ser poupado.

Da terrível privação
ganha uma fibra de aço,
na palavra seu valor,
a fé dirige seu passo,
esperança que alimenta.
Vida vencida no braço.

Brasileiros bem deviam
meu sertão vir conhecer,
a malandragem caía,
o caráter ia crescer,
a coragem aumentaria.
Que Brasil nós íamos ter!

Que me desculpe o leitor
o caminho que enveredei,
aqui também vai meu grito
que para o nordeste dei.
Não posso ser, se não sou,
pois a mim mesmo adotei.

Confie no Homem e na Cruz,
resumindo o que falei,
parece a arte do óbvio,
pois Antroposofia é lei,
ciência popular, linda
o que não sabia que sei!